O workshop “Inovação e Tecnologia no Desporto” realizou-se esta quinta-feira, dia 7, no Fórum Municipal Luísa Todi, em Setúbal, com o objetivo de refletir sobre as oportunidades trazidas pelo universo digital para a área desportiva, tendo registado uma enorme participação.
Cerca de 700 pessoas participaram no evento, de forma presencial e online, numa manhã em que se falou de tecnologia, desempenho desportivo, modernização administrativa, centros de alto rendimento e da ferramenta e-desporto, e que teve a apresentação a cargo da atleta Ercília Machado.
A abertura do evento ficou a cargo de Luís Liberato Batista, diretor da Câmara Municipal de Setúbal, que relembrou que o município de Setúbal é desde julho de 2021 curador da Fundação do Desporto e referiu que “a organização deste evento orgulha o município de Setúbal, quer pelo grato prazer de aqui receber muitas das mais importantes figuras do dirigismo desportivo português, quer pelo importante estímulo que a ocasião simboliza e representa para o processo que já iniciámos com a Fundação do Desporto para a criação futura de um Centro de Alto Rendimento em Setúbal. Conhecemos bem a dificuldades crescentes para o alargamento da rede nacional de centros de alto rendimento, num pais cada vez mais carente de recursos financeiros de apoio ao desporto. Sabemos bem da dificuldade da captação de mais recursos de apoio ao desporto e ao desporto de alta competição num concelho como o de Setúbal, por vezes demasiado perto e por vezes demasiado longe da capital do país, local onde já existe uma oferta qualificada e de grande qualidade no âmbito dos Centros de Alto Rendimento. Estamos, no entanto, empenhados em reforçar com a Fundação do Desporto a rede nacional de centros de Alto Rendimento. Setúbal foi e continua a ser um concelho, um distrito e uma região que muito deu e continua a dar ao desporto português.”
Mário Quina, Presidente da Federação Portuguesa de Vela, em representação do consórcio promotor do evento, salientou que o denominador comum das seis entidades que o compõem é a modernização administrativa e a transição digital. “Tendo em conta a qualidade do programa deste workshop, estou cero que o mesmo será para todos muito útil e proveitoso”, referiu.
O Workshop foi dividido em duas partes, com a primeira a ser dedicada ao tema “Treino e Alto Rendimento Desportivo: a Era da Tecnologia”.
Ana Paula Inácio, representante da Link Consulting, S.A. “A solução e-Desporto, powered by Link”, fez uma apresentação sobre “A Tecnologia Aplicada à Modernização Administrativa: e-Desporto”. Apresentou o projeto e-Desporto do consórcio, referindo os objetivos, que passavam pela implementação da solução de “Balcão do Desporto” multicanal, implementação do sistema de gestão documental e worflow edoclink, interoperabilidade documental e levantamento, reengenharia e desmaterialização de processos.
A responsável referiu que “os três componentes base do projeto são o portal e-Desporto, o sitio de entrada onde o publico em geral pode aceder e ver um conjunto de notícias e vídeos sobre o balcão e as federações, o balcão onde os requerentes podem ir colocar e requerer serviços e a componente da gestão documental onde internamente as organizações vão poder tratar os pedidos que são submetidos.” Ana Paula Inácio fez uma demonstração do funcionamento do balcão, através de uma submissão de pedido.
De seguida, teve lugar a mesa redonda subordinada ao tema “A Tecnologia e o Futuro do Desporto”, que teve como intervenientes Susana Feitor, presidente do Conselho de Administração da Fundação do Desporto; António Silva, presidente da Federação Portuguesa de Natação, João José, presidente da Federação Portuguesa de Atividades Subaquáticas; Mário Quina, presidente da Federação Portuguesa de Vela; Sérgio Dias, presidente da Federação de Triatlo de Portugal e Vitor Félix, presidente da Federação Portuguesa de Canoagem; e moderação de Manuel Queiroz, jornalista e presidente do CNID | Associação dos Jornalistas de Desporto.
Na mesa redonda, Susana Feitor referiu que “a desmaterialização dos processos administrativos está na ordem do dia e este consorcio está na linha da frente e mais adiante terá um produto bastante eficiente que vai ajudar a acelerar os processos administrativos.”
Mário Quina salientou que “este projeto vai permitir uma reengenharia de todos os processos, com ganho de eficiência e eficácia. As federações, que são entidades de utilidade pública desportiva, vão ter que estar preparadas para o desafio da interoperabilidade com a administração pública.”
Vítor Félix afirmou que “o resultado desportivo de um atleta não depende só do seu talento e do seu trabalho. Hoje em dia depende de um conjunto de fatores complementares ao treino, desde o treinador, o fisioterapeuta, o médico, o psicólogo. Há um conjunto de fatores que ajudam e implicam no resultado desportivo do atleta. É claro que a tecnologia é um fator muito importante, que pode influenciar no rendimento desportivo.”. O dirigente federativo deu o exemplo do maior fabricante de canoagens do mundo e seu patrocinador, a empresa Nelo, que utiliza a tecnologia para melhorar o desempenho das canoas. “Hoje em dia há um conjunto de tecnologias a que todas as federações se socorrerem no sentido de beneficiar os resultados desportivos. Por vezes se ganha ou se perde uma medalha por centésimos ou décimos de segundo.”
António Silva salientou que “estas organizações tiveram a capacidade de ser as primeiras a abraçar o desafio da inovação, da desmaterialização, do workflow.” O dirigente acrescentou que “a partir do momento em que as organizações estão capacitadas num ambiente e num contexto inovador conseguem dar uma resposta mais adequada e mais rápida, tendo em conta o objeto social da organização, que é prestar um bom serviço desportivo aos nossos cidadãos. No caso da natação, pôr o maior número de pessoas a nadar e depois se possível com resultados nas diferentes disciplinas aquáticas, utilizando técnicas e recursos que possam colmatar a diferença entre aquilo que é a inovação feita no nosso país e a inovação feita nos outros países a nível mundial.”
João José, presidente da Federação Portuguesa de Atividades Subaquáticas, começou por destacar o carácter particular da organização que dirige, dado que têm dois mil filiados competitivos e cerca de 20 mil praticantes lúdicos: “A nossa federação é maioritariamente lúdica. É uma federação das certificações, temos uma dimensão de certificações maior do que o portal da prodesporto. Sempre tivemos uma grande componente tecnológica. A nossa plataforma está a ser implementada em 130 países.”
A segunda parte do workshop, denominada “Treino e Alto Rendimento Desportivo: a Era da Tecnologia” teve como primeiro interveniente Ricardo Santos, diretor de tecnologias da Federação Portuguesa de Futebol, que fez uma exposição sobre “As Tecnologias em estruturas desportivas: desafios e oportunidades”. O diretor salientou que “a transformação digital exige estratégia e planeamento, mobilização de valências e avaliação de performance”.
Duarte Araújo, investigador da Faculdade de Motricidade Humana/Universidade de Lisboa falou sobre “Exemplos de vanguarda na aplicação da tecnologia à otimização do rendimento desportivo”. Começou por falar sobre como na Faculdade de Motricidade Humana “contribuímos para melhorar o conhecimento sobre o desporto e influenciá-lo positivamente. Naturalmente que a ciência e a tecnologia são aspetos fundamentais para saber como treinar e como melhorar a performance.” E partilhou com a audiência a forma como o laboratório que coordena, “Perícia no desporto”, se tem vindo a desenvolver ao longo do tempo. Duarte Araújo salientou que “o treino está felizmente a mudar, é uma característica natural do treino, e podemos beneficiar bastante da questão que o mundo digital, big data, tecnologia, e tudo o que tem a ver com o processamento avançado de informação.”
O docente destacou que “a tecnologia, a informação e os dados devem expandir a nossa inteligência, a nossa perceção e a nossa ação. Não nos substituem, são ajudas muito preciosas que amplificam o nosso poder de ação. Por isso enquadrar a performance, o desempenho, é um aspeto fundamental. Perceber que qualquer que seja o comportamento humano, ele é sempre contextualizado, nunca acontece no vazio. Isto quer dizer que a informação deve estar ao serviço deste enquadramento.” A análise da performance no desporto passa por obter dados, processá-los e visualizar os resultados.
José Serrador, diretor do CAR Jamor falou do processo de “Transição Digital no CAR Jamor”, referindo “tínhamos um conjunto de serviços, descentralizados, que tinham ferramentas de trabalho que eram um pouco antigas, muitos documentos em papel, uma utilização do Outlook calendários, pastas, folhas de Excel. Tudo isto significava tempo e trabalho acrescido. Não era aquilo que gostaríamos de fazer.” E explicou o processo, que passava por “congregar todas as diferentes áreas que tínhamos no Centro de Alto Rendimento e colocá-las a funcionar de uma só vez. Basicamente queríamos aumentar a eficácia de organização, queríamos atletas e treinadores mais satisfeitos com o nosso trabalho.”
José Serrador explicou que a empresa ISM Improving Sports adaptou a plataforma criada para academias de futebol ao Centro de Alto Rendimento do Jamor e suas necessidades, criando a plataforma Sports ISM, que deu origem ao CAR Jamor Digital, uma plataforma idealizada para o Jamor. A plataforma permite a ligação entre o CAR, os atletas, treinadores e demais agentes desportivos.
Vasco Dias, da Unidade de Avaliação e Controlo do Treino do CAR Jamor, abordou “O papel da tecnologia e da ciência na otimização do Rendimento Desportivo”, incidindo sobre a avaliação e controlo do treino, cujo objetivo é “quantificar o movimento, quer seja a carga interna ou externa. E isto tem objetivos: ver qual é o desempenho no momento e contribuir para a melhoria desse desempenho daí para a frente; identificar alguns riscos de prevenção de lesões e no tratamento da lesão, o que vai permitir maior longevidade na carreira desportiva”.
José Forjaz, representante da Football ISM explicou o processo de criação da empresa que criou a plataforma digital do CAR Jamor. A plataforma Sports ISM abrange todas as áreas da vida de um clube ou organização, desde a área técnica, passando pela gestão das instalações, secretaria, incluindo a vertente administrativa. A plataforma tem sido melhorada através das experiências dos clubes, academias e Centros de Alto Rendimento que engloba, “bebendo os conhecimentos e expertise de todos os diferentes departamentos e diferentes clientes para podermos melhorar o sistema.” A empresa já tem as plataformas Football ISM, Sports ISM, Coach ISM e Fans ISM.
No encerramento da sessão, Susana Feitor, agradeceu a presença de todos os participantes, presenciais e online, e referiu que “este foi um projeto de seis entidades, cinco federações desportivas em conjunto com a Fundação do Desporto. Os resultados alcançados são produto do trabalho de todos.” Disse ainda que a Fundação quer “continuar a procurar mais projetos no âmbito do financiamento europeu de modo a conseguir providenciar ao desporto mais ferramentas e conseguirmos ter impacto positivo em especial com os centros de alto rendimento mais também com os outros agentes desportivos. A Fundação está disponível sempre que o tecido empresarial entender que pode utilizá-la como meio para chegar aos agentes desportivos, ao terreno. Nós existimos exatamente para isso, mas o nosso principal propósito continua a ser a coordenação dos centros de alto rendimento. Queremos estar próximos e queremos que os centros continuem sempre na vanguarda da ajuda aos nossos atletas e aos nossos treinadores.”
Pedro Pina, vereador da Câmara Municipal de Setúbal, salientou que “o sucesso deste encontro é de facto a capacidade de trabalharmos em rede. Tivemos na sala do Luísa Tody aproximadamente 300 pessoas e quase 400 pessoas online, um absoluto e extraordinário sucesso. E é o sucesso da capacidade de trabalho, de trabalho em rede, da Fundação do Desporto, da Câmara Municipal de Setúbal e de todos os parceiros, das Federações e de todos os parceiros que objetivamente trabalharam para este projeto.”
“Falta aqui uma palavra importante para acrescentar à inovação, e à tecnologia, que é financiamento”, salientou, acrescentando: “E esta é uma questão fundamental. Porque se ficamos fascinados com aquilo que a inovação e a ciência nos traz e a capacidade que muitas entidades e organizações traduzirem hoje na sua performance, no seu trabalho, no seu quotidiano muitas destas metodologias, muita desta capacidade, também é verdade que a realidade com que trabalham muitas organizações, muitas das nossas federações, muitos dos nossos clubes, muitas das autarquias, fica ainda distante também disto”. O responsável prosseguiu, dizendo que “estamos empenhados para fazer uma coisa fundamental. A primeira é entender o desporto como uma condição incontornável do desenvolvimento dos territórios. Esta é uma questão que passa também por uma outra questão, que é a política. Nós precisamos definitivamente que o país olhe para o desporto, não como um elemento acessório que é feito nas escolas, que é feito no dia a dia, mas como um pilar central do desenvolvimento humano, da vida, das sociedades, dos territórios, das autarquias e do país. E isso significa alterar o paradigma, como aqui já foi dito. Segundo, porque precisamos que essa condição seja traduzida nos meios e nos recursos. Vivemos neste binómio, entre o futuro aqui mesmo ao lado, mas sobretudo a realidade e com os pés bem assentes na terra.”
As nossas palavras são de total disponibilidade, persistência e resiliência, continuamos a acreditar no desporto como um pilar central no desenvolvimento da cidade de Setúbal. Continuamos a investir naquilo que são os recursos fundamentais e mais queremos fazer e certamente novidades traremos muito em breve para poder ainda apetrechar de uma forma mais qualificada os nossos equipamentos municipais, mas acima de tudo, de democratizar o acesso ao desporto com a tecnologia e com a ciência”, disse.
“Sejamos felizes e o desporto é uma parte muito importante para a felicidade das nossas vidas”, finalizou Pedro Pina.